Cantigas

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Tenho cá pensado com meus botões... E se Deus vencesse Lúcifer?




Tenho cá pensado com meus botões, e se Deus de fato, vencesse Lúcifer?

Sim, por que do jeito que percebo, aqui na terra o marketing de Lúcifer está vencendo o de Deus há séculos (ou será milênios)?

Me refiro, aqui, a um fenômeno inquietante, de natureza profunda e para mim (que nem ando muito atento aos possíveis desígnios do diabo) muito difícil de ser barrado: uma certa "evangelização" torta do comportamento e de cunho neo-pentecostalista que vem tomando a dianteira nas relações sociais no Brasil e mais particularmente na cidade em que vivo, a Salvador da Baía de Todos os Santos (que querem até dizer que pertence a um apenas...).

Fui cristianizado quando criança, batizado (que cena bonita nas fotos de meus nove meses), passei pela Comunhão primeira com a celebração eucarística, a confissão dos pecados e a Hóstia que me dá a real sensação de receber a mensagem de Cristo em meu corpo.

Me tornei Filho de Santo, Ogã de Candomblé e consagrei no meu corpo o azul claro de meu pai Oxóssi, Luz de Vida e que também não tem muita intimidade com o diabo, aliás mantendo com ele uma sincera relação de desprezo.
Veja só, se o caçador vai se preocupar com um anjo decaído que remói sua inveja eterna do poder do maioral...

A cidade da Baía vem pasando por um processo crescente de evangelização entortecida forçada do comportamento: tudo gira em torno das bençãos, dos irmãos, do Senhor, como se com a pentecostalização da Bahia (fenômeno que crsece paulatinamente desde os anos setenta), todos estivessem à mercê dos males do cão e de seus ardis e a salvação somente pudesse ser a aceitação desta forma de conceber o mundo.

Recentemente, a expressão "rá ti bum", dos parabéns de aniversários e do programa educativo e bem formador da TV Cultura de São Paulo, foi veiculada em diversos e-mails como sendo uma saudação demoníaca, numa explicação racionalmente construída sobre uma irracionalidade que ultrapassa o sentimento religioso e se torna, aí sim, numa ode constante ao poder do Satanás, Belzebu, Diabo e qualquer outro nome que assuma o personagem por quem não nutro simpatias e muito menos tenho qualquer intimidade.

Chega de tanta paranoia existencial que enxerga nas mais frugais coisas da vida um "plano diabólico" que teima em querer destruir os "planos celestiais".

Estou com saudades da cidade do Salvador em que os ebós podiam conviver pacificamente nas ruas com os exus e entidades afins que as recebiam.
Na TV, tive que assistir a um carioca que certamente não tinha muito a cultivar no seu ócio e dedica seus dias a coibir os sacrifícios de animais do candomblé em nome dos direitos dos animais.

Não sabe quem são Ossaim, Oxóssi e afins e sua relação com a proteção de todos os seres animados da terra...

Estou com saudade de uma Bahia em que um fio de contas não gerava uma ladainha sonora nos ouvidos cantada nos ônibus, bancos e lugares públicos para combater a fé alheia. 
Digo a todos que encontro e que começam a cantar (na maioria das vezes, ainda mal) no meu ouvido: sou cantor, não microfone (parece que toda vez que um adepto de candomlblé é visto, se confunde com um microfone para o senhor, na realidade esquizofrênica de certos religiosos cultuadores de um deus (ou será mímese mesmo do diabo?) que parece não estar muito atento a estas manifestações.

Estou acostumado a um deus pentecostal que fulminava a terra com raios, terremotos e dilúvios ao menor sinal de desacerto...

Se ele estivesse vendo a tudo e todos, omnipresentemente e omniscientemente, faria algo contra essas sandices.

Que saudades deste Deus... por vezes, de fato sinto...

Sou religioso.
Sou baiano.
Sou filho de Deus.

Chega de tratar a realidade como se fosse uma representação imperfeita das páginas de escrituras cuja interpretação do mundo é uma entre tantas.
Eu quero poder falar nagô e não ter que aguentar o oferecimento do acarajé de Jesus (que para mim sempre foi homologamente o pão da ceia).
Iansã, certamente não fica aborrecida: não tem querelas com Cristo, de quem é parceira na condução desta cidade da Baía de TODOS os Santos, mas cá pra nós: Jesus não tem muita intimidade com o dend~e e com a quentura do akará, não é?

Eu quero uma Bahia em que hipócritas não falem na televisão em nome da pobreza e ao mesmo tempo sejam algozes pentecostais da periferia e dos pobres (a quem Cristo delega o verdadeiro reino dos céus).
Chega de ignorância e desespero existencial mal direcionado.
Cuidemos de nossas cabeças (Iemanjá faz isso, sempre, em cada Bori, assentamento e feitura de Orixá) afim de não entrarmos num barco de Caronte furado e cujas águas são sujas por uma mentalidade empobrecida pela brutalidade que logra êxito por conta de interesses claramente obscuros: diluir a vida em misérias insuperáveis.
Transformam-se vítimas em algozes de si mesmos.
Sejamos budistas, católicos, afros, euros, pentecostais, batistas, etc.
Sejamos mais que tudo isso e tenhamos uma crença mais inteira: SER é o melhor de tudo!
Sejamos Carne, Alma e Deus!
Nada de menos.

Chega de contenção!

A força é bruta e a fonte da força é neutra, como diria meu Pai Gil!

Realce, quanto mais purpurina...

Para ler ouvindo Sobre todas as coisas (Edu Lobo / Chico Buarque).

Ah! Até gravei esta canção: http://www.youtube.com/watch?v=GFUbsZWfJdE 

Para não dizer que não falei...



Para não dizer que não falei de política...


O Brasil é um curioso país:  meu país, minha nação, onde nasci.


Esta semana, o Brasil colocará no poder alguém entre dois projetos dissonantes e que, juntos, não resultam num belo acorde de bossa nova.


Nada mais similar que a briga de poder e nada mais díspar que a relação entre as propostas aqui apresentadas.


Minha empatia não flui naturalmente para nenhum dos lados.
Minha confiança oscila numa balança sutilmente desregulada, por não entender o diapasão que rege  esta orquestra foucaultiana...


Sim, sei bem que não serei alguém, como diria Pessoa, mas sei bem que entre Dilma e Serra há dois Brasis bem distintos: e eu não prefiro o segundo.


José Serra apresenta como opção uma brasilidade de sotaque bem definido, de etnia bem demarcada, de bolsos bem assumidos:
e que não me representam...


Dilma Roussef traz um ideário já em andamento.
Ela, gaúcha que disse que os nordestinos migram para o Brasil (sic) também governará para um país cuja minha pertença não é muito segura...
A Bahia que o diga (seus precedentes já me foram muito sentidos, na minha pele escura/clara  e caymmiana de preto/mulato/doutor).


Acontece que o projeto Dilma (diga-se de passagem, o projeto pernambucano/paulista operário de Lula) certamente aponta para continuidades que, se não resolvem os problemas mais profundos desta nação, direcionam ajustes no mínimo necessários, seja para cariocas, piauienses, curitibanos ou emsmo baianos, já escaldados com caldos de estrela branca enfiada em pau forte.... 


Não dá para aguentar a retórica serrista contra cotas, bolsas assistenciais, aumento do fluxo de pobres nos aviões, como sai da boca de uma média (ocre) classe brasileira que aprendeu a defender projetos conservadores desde a época dos liquidificadores, enceradeiras e batedeiras elétricas do "milagre" de 1973.


Minha pertença a um tipo de média classe, por ser acadêmico de formação (sic) não me permite pensar o país a partir das xerox de textos utilizados nas salas de aula das universidades como se com eles somente, fosse possível resolver questões práticas, sentidas por pessoas, que como eu, nasceram pobres e vivem ainda hoje em condições que, não fosse a fé que costuma acompanhar, seriam apenas estatísticas ainda piores que as atuais.


Fiquei pensando em escrever sobre os boatos a respeito de Dilma, os comentários de sua inexperiência, as maledicências (ou boas notícias) que sugerem até homossexualidade...
Desisti...
Ai meu Deus, como eu queria, que Zumbi tivesse mesmo sido gay...


Confesso!
Este texto, na verdade, surgiu da minha lembrança de uma canção que há muito me impressiona, menos pelos personagens em questão e mais pelo conteúdo que, apesar de referir-se a um fato do final dos anos oitenta, ainda é bastante atual:


Pode, Waldir?

           Gilberto Gil



Pra prefeito, não

Pra prefeito, não

E pra vereador:

Pode, Waldir? Pode, Waldir? Pode, Waldir?

Prefeito ainda não pode porque é cargo de chefia

E na cidade da Bahia

Chefe!, chefe tem que ser dos tais

Senhores professores, magistrados

Abastados, ilustrados, delegados

Ou apenas senhores feudais

Para um poeta ainda é cedo, ele tem medo

Que o poeta venha pôr mais lenha

Na fogueira de São João

Se é poeta, veta!

Se é poeta, corta!

Se é poeta, fora!

Se é poeta, nunca!

Se é poeta, não!

O argumento é que o momento é delicado

E prum pecado desse tipo

Pode não haver perdão

Mudança é arriscado, muda-se o palavreado

Mas o indicado

Isso ele não muda, não

O indicado deve ser do tipo moderado

Com um mofo do passado

Peça do status quo

Se é poeta, veta!

Se é poeta, corta!

Se é poeta, fora!

Se é poeta, nunca!

Se é poeta... oh!

O certo poderia ser o voto no Zelberto

Mas examinando mais de perto

Ele tem que duvidar

A dúvida de que a Bahia tenha um dia tido a primazia

De nos dar folia

De nos afrocivilizar

Pra ele civilização é a França que balança

No seu peito de homem direito

Homem de jeito sutil

Se é poeta, veta!

Se é poeta, corta!

Se é poeta, fora!

Se é poeta, nunca!

Se o poeta é Gil!

Pra prefeito, não

Pra prefeito, não

E pra vereador:

Pode, Waldir? Pode, Waldir? Pode, Waldir?






E aí ?
Em se tratando de um voto um pouquinho melhor,


PODE, BRASIL?




P.S. 1 Para ouvir a canção basta acessar http://www.gilbertogil.com.br/
P.S. 2 Meu primeiro turno teria sido de Marina Silva

































































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